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Vida e obra de Karl Schubert

(Traduzido do espanhol por Mônika Lustosa e Andrea Gálvez)

Karl Schubert, é 25.11.1889 Viena, ? 3.2.1949 Stuttgart

Mediante a força da palavra
erguer-se no físico,
curar no etérico,
perdoar no astral,
e consolar no EU.
Karl Schubert

Na série Pioneiros da Antroposofia editou-se o artigo Karl Schubert, imagens e apontamentos, escrito por Hans-Jürgen Hanke. Esta meritória obra de Hans-Jürgen Hanke deu-me um bom estímulo e formou a base para apresentar Karl Schubert na Reunião Anual da Sociedade Antroposófica em Stuttgart, em 16.3.2005. Todos aqueles, ocupados com a educação e com a pedagogia curativa podem obter os apontamentos de Karl Schubert e, mediante a dedicação a esta biografia sobre saliente, poderão encontrar, para seu próprio trabalho, impulsos valiosos e fecundos. Por esta razão, esta apresentação é oferecida aqui de maneira escrita, acompanhada pelo desejo de que o livro de Hans-Jürgen Hanke Pioneiros da Antroposofia encontre uma ampla propagação.

“Rudolf Steiner sempre me deu tarefas, que eu mesmo não queria realizar. Teria preferido dedicar-me a coisas muito diferentes. E se soubesse que alguma vez teria que ser professor Waldorf, há 330 anos teria começado a preparar-me.” [164] Nestas palavras de Karl Schubert, dirigida aos seminaristas do Seminário para Docentes em 1945/46, não se evidencia tão somente o intenso humor de Karl Schubert (existem muitas anedotas sobre ele), mas também um profundo assunto de sua biografia: Rudolf Steiner delegou-lhe tarefas que de início não sabia nem havia podido conhecer, uma vez que não haviam existido: Como ser professor Waldorf, pedagogo curativo, mestre do Ensino Livre Religioso Cristão e executor do Ato do Culto Dominical para os alunos, dado por Rudolf Steiner.

Quando Rudolf Steiner, na conferência de 8.3.1920, meio ano depois da Fundação da Escola Waldorf em Stuttgart, fala da necessária instalação de uma classe de apoio para as crianças não dotadas e diz que o mesmo será confiado durante o tempo de duração da classe principal a Karl Schubert, Karl Schubert ainda não tinha contrato algum com a escola, e nada sabia deste fato, que Rudolf Steiner queria fazer dele um pedagogo curativo. Em janeiro de 1920, Karl Schubert havia se oferecido como “trabalhador do espírito e das mãos” a Emil Molt em sua fábrica em Stuttgart, acrescentando que, se isto fosse possível, gostaria de realizar um estágio como hóspede na Escola Waldorf. Recebeu uma resposta diretamente da escola Waldorf, por meio de um telegrama: Pediram que se apresentasse em determinada data para dar uma aula de francês no 5º ano. Foi assim que Karl Schubert chegou a Stuttgart no começo de fevereiro de 1920 para encontrar-se com Rudolf Steiner em um 5º ano. Durante esta aula de francês a Rudolf Steiner caiu-lhe uma folha no chão. Karl Schubert apressou-se para erguê-la e, assim o fazendo, caiu no chão por inteiro. Rudolf Steiner ajudou-o a levantar-se e disse: Seguramente, você não tomará isto como um mal sinal. A aula foi muito boa. A presença de Rudolf Steiner não o intimidou, pelo contrário, deu-lhe segurança.[165] Schubert pensou então que deveria ser professor de línguas. Para isso dispunha dos melhores dotes: Karl Schubert dominava os seguintes idiomas: inglês, francês, tcheco, russo, grego antigo e latim. As línguas chegavam até ele “voando”. Além de História e Filosofia, havia realizado o estudo da ciência lingüística. Em 1º de abril, firmou-se o contrato com Emil Molt. Não havia dúvida alguma, Rudolf Steiner queria ter Karl Schubert na escola Waldorf e tinha uma missão especial para ele. Para começar, Schubert teve que tomar sob seu comando um 7º ano e conduzi-lo ao 8º, em setembro de 1921. Porém, já em maio de 1921, durante uma conferência, Rudolf Steiner fala novamente da classe de apoio e diz: “ O Dr. Schubert deveria encarregar-se do mesmo”. Na conferência, por ocasião do novo ano escolar, em 9.11.1921 logo disse: (…) Agora vem ao caso em primeiro lugar, o restabelecimento do grau auxiliar. Isto é necessário (…) Eu ficaria muito contente, Dr. Schubert, se o senhor pudesse tomar conta desta aula de apoio.[166]

Foi assim que Karl Schubert converteu-se em pedagogo curativo e Sttutgart é o local de origem das escolas pedagógico-curativas. Quando em 1924 Rudolf Steiner a pedido dos pedagogos curativos Siegfried Pieckert, Friedrich Löffler e Albert Strohschein levaram a termo o Curso de pedagogia Curativa, o Curso de Educação Especial em Dornach, naturalmente convidou também a Karl Schubert para esta ocasião e tratou-o como colaborador; incluiu-o no trabalho e passou a Schubert as perguntas formuladas pelos três amigos para que ele informasse, a partir de suas experiências com as crianças necessitadas de cuidados educacionais especiais, com as partes interessadas na pedagogia curativa sobre a classe de apoio. Este trabalho de estreita colaboração com a pedagogia curativa, depois da Conferência de Natal também com a Dra. Ita Wegman e a Sessão Médica, teve continuidade mesmo depois da morte de Rudolf Steiner e depois da Segunda Guerra Mundial. O Curso de Pedagogia Curativa não dispôs de um taquígrafo. Schubert que dominava a taquigrafia pode fazer os apontamentos. Foi assim que mais tarde o curso foi publicado por Ita Wegman, juntamente com Karl Schubert. Ita Wegman chamou-o para conferências e congressos dados no instituto Sonnenhof, em Arlesheim, Suíça. Karl Schubert acompanhou-a a Inglaterra e Holanda. Uma pedagoga curativa holandesa disse, com respeito a Karl Schubert: “Converteu-nos em amigos, em irmãos.” Depois da guerra nos lugares era chamado: “O Viajante Querubim”. Era um hóspede bem recebido e buscava a união do movimento pedagógico curativo no físico, mas também em sua consciência. Quando Friedrich Löffler na oportunidade daquela prática virginal em Dornach, formulou a Steiner a pergunta sobre o destino destas crianças, Rudolf Steiner referiu-se às experiências tidas no grau auxiliar conduzido por Karl Schubert e disse: Quando chego a Sttutgart ao grau de apoio, digo a mim mesmo: Aqui se está trabalhando para as próximas vidas terrenas, independentemente daquilo que pode ser feito agora, e isto pode ser muito, no caso de uma real compreensão e entrega.[167]

Ao contemplar a biografia de Karl Schubert, nos damos conta de como em seu destino está pronto àquilo que o conduziu a este especial trabalho pedagógico-curativo, porém também que esteve presente desde cedo uma relação especial com Rudolf Steiner.

No colegiado de Stuttgart, Karl Schubert pertencia a “os austríacos”. Nasceu em 25.11.1889 em Viena. Foi uma criança com forte inclinação religiosa, que através de uma babá tcheca entrou em contato com o catolicismo, em um local de certo modo mais ou menos de religiosidade livre. No domingo, nas brincadeiras com seu irmão praticava a missa e desenvolveu uma vigorosa voz para o canto no coro. A profunda transformação pela qual a criança passa entre os 9 e 10 anos de vida (chamado Rubicão por Rudolf Steiner) foi vivido com força pelo menino Karl e por meio de uma grande incisão: Revelou-me a essência, o ser do Cristo.

Desaparece a proximidade com o Cristo, vivenciada pela criança e o jovem, chegando à puberdade, desenvolve um forte interesse técnico, aparecem dúvidas religiosas, um afastamento da igreja, o que, por sua vez, gera uma busca, a aparição de perguntas que o conduzem a Jacob Böhme, a Ângelus Silesius, a Novalis. Ao mesmo tempo, ele dava aulas de apoio a uma criança da pedagogia-curativa, que logo pode cursar o ciclo superior. O pai levou o menino de quatorze anos, com o qual tinha uma íntima relação, a uma conferência teosófica. No círculo teosófico – na ocasião a família vivia em Klangenfurt – Karl Schubert conheceu Guido Ratzmann, empresário na área da construção, 30 anos mais velho que ele. Guido Ratzmann havia escutado em 1906 uma conferência de Steiner em Munich e disse: “È preciso ouvir a Rudolf Steiner!” Ratzmann estudava com seu círculo, ao qual também pertencia o jovem Schubert, conferências de Steiner. Em novembro de 1908 Rudolf Steiner foi convidado a esse Ramo em Klangenfurt, para dar três conferências. Guido Ratzmann enviou Karl Schubert, que recentemente havia completado 19 anos, à estação de trem para buscar Marie von Sievers e Rudolf Steiner. Estas conferências indicaram o caminho de Schubert: Os rosacruzes, o Caminho formativo e, principalmente, a terceira conferência sobre Religião. Em 1909 escutou novamente Steiner sobre os rosacruzes, a meditação rosacruciana. Schubert anotou entre outros: A partir da profunda vivência comparativa da evolução avançada e da culpa moral acumulada com respeito a inocência dos retardados, se gera um sentimento de humildade ou de saudade pela perfeição. Esta saudade por perfeição, pode atuar no homem de tal maneira que ele se esforça por purificar seu ser das paixões, refinar e transformar seu sangue de tal maneira que se torne imaculado e puro como o vermelho da rosa.[5] Schubert havia se encontrado com seu professor, e paralelamente ao seu estudo exterior em Viena e Londres, começou um “estudo interior”, iniciou um caminho interior de formação, que seguiu com extrema seriedade e lutas interiores, ao qual se agregou uma séria busca com respeito ao ser do Cristo. Karl Schubert era um homem de grande força de vontade e lutou – quase com violência – com as imperfeições do ser humano. Rastros desse caminho podem ser encontrados nas anotações de seu diário. O tempo que passou em Londres promoveu uma forte transformação interior no jovem de 21 anos, abrindo um novo ciclo em sua vida. Se interpretarmos corretamente as anotações de seu diário, foi ali que Schubert experimentou uma nova aproximação ao Cristo. De volta a Viena, terminou seus estudos. O Dr. Hauschka relatou certa ocasião, que no círculo estudantil ao qual ambos pertenciam, Schubert tinha o apelido “Grande poder espiritual”.

Neste ínterim havia começado a Primeira Guerra Mundial, e Karl Schubert foi recrutado como soldado. Pouco dias antes de ter que deixar Viena em 1915, encontrou-se com Rudolf Steiner que lhe disse como despedida: Não tenha medo, eu estou com você; pense em mim. Leve a Ciência Oculta.[6] E Schubert anotou em seu diários: “Como uma benção, me acompanharam suas palavras e seus livros”. E costumava comenta-lo da seguinte maneira: “ Nunca pude cursar a Ciência Oculta – então pensei, tampouco uma bala poderá me atravessar”. Além da Ciência Oculta de Steiner, o acompanharam a Bíblia e Novalis.

No ano de 1916 casou-se com Helene Nierl, que durante a Primeira Guerra Mundial trabalhava no Primeiro Goetheanum em Dornach. Em seu diário de guerra lemos: Quase não consigo levar até o fim meu trabalho interior da alma, porque estou sempre acompanhado de meus companheiros, que não dirigem sua atenção nesta direção (…) (26.9.1915) Rogo a deus – por seu trono Universal – que me conceda a graça de poder retornar junto a meus amigos, para poder anunciar-lhes, com voz trêmula, aquilo que experimentei com respeito a uma nova compreensão. A morte do Cristo na cruz ilumina o caminho de avanço dos homens. En conspectu mortis, o homem experimenta tudo aquilo que significa seu corpo sobre a terra, como se já houvesse morrido, orienta seu olhar retrospectivo a sua vida em admiração, assombro e arrependimento, vivencia a profundidade de seu significado. Mediante amor espiritual abraça a todos os que aqui em serviço se aproximam de mim, descontentes e com raiva. Para que o amor transforme o ódio, convertendo-se em gérmen para uma posterior compreensão. (10.11.1915). As anotações finalizam sempre com as palavras: “Paz, a todos os seres!” Com esta frase termina também a última nota de 12.12.1948.[7]

Durante dois anos Karl Schubert foi prisioneiro na Rússia. Com os prisioneiros realiza a dramatização da “Representação de Natal de Oberufer”, Schubert a conhecia desde 1910/11 e, evidentemente, a conhecia de memória. Mais tarde Rudolf Steiner escreveu para ele o prólogo do Cantor da Árvore e o prólogo do Cantor da Estrela na Representação do Nascimento de Cristo, praticando-o com ele. Este trabalho com Rudolf Steiner nas representações de Natal de 1921, em Dornach, fez com que Schubert às executasse, ano após ano, no colegiado de Sttutgart, no o qual estas dramatizações se converteram em um firme componente da época de Natal nas escolas Waldorf e nas instituições pedagógico-curativas.

O primeiro dia depois de sua libertação do cativeiro da guerra em 1918, Karl Schubert encontrou-se com Rudolf Steiner em Viena! Rudolf Steiner aproximou-se cordialmente dele e o abraçou. Seguiu-se o nascimento do primeiro filho de Schubert, Michael, em 1919 e a inicialmente comentada solicitação de ingresso na escola de Stuttgart, em 11.1.1920.

Karl Schubert trabalha com a força da palavra, como um elemento despertante, porém também a partir de uma profunda consciência, que o Logos, a entidade Crística, a meta da perfeição humana vive na fala como força plamadora do humano, devendo e podendo ser chamada, na imperfeita formação envolvente de suas crianças da classe de apoio. Rudolf Steiner confiava na incondicional vontade de querer ajudar de Karl Schubert e em sua força que podia despertar o Ser daquelas crianças. No primeiro colegiado da escola Waldorf certamente não existia ninguém a quem Rudolf Steiner não elogiava tão incondicional e exclusivamente, dado que Rudolf Steiner “educava” a estes primeiros professores Waldorf com carinho, porém com severidade. Típico para os apartes de Rudolf Steiner sobre Karl Schubert são as palavras registradas pela primeira professora de Euritmia, Nora von Baditz: Em Dezembro de 1919 o Dr. Steiner nomeou-me como professora de Euritmia na escola de Sttutgart. À minha pergunta, o que deveria fazer, como nunca havia ensinado a crianças, respondeu: Para as crianças não terá que trazer nada de maneira moral. Pergunte-se apenas: É doença? É saúde? Então em você prosperará o amor que necessitará (…) E Rudolf Steiner aconselhou-me a ir à classe de apoio de Karl Schubert. “Lá poderá vivenciar como estas crianças enfermas estão completamente fora de seus corpos; então, o Dr. Schubert produz um forte ruído e estas crianças entram em seus corpos. Ensina-lhes todos os tipos de matéria. Poderá ver que com algumas crianças diz as palavras iniciais do Evangelho de João, para outra mostra como se escrevem as letras, com uma menina faz cálculos, utilizando o tempo em que o ser da criança está presente. E com um sorriso o Dr. Steiner continuou dizendo: Mas depois de um tempo terá que prestar atenção, uma vez que, quando o Sr. Schubert se dá conta de que as crianças se ausentaram, faz um ruído muito mais forte – mas que está no lugar correto! O Dr. Schubert realmente se encontra no lugar correto, o que faz é muito, muito bom. Visite-o uma vez e outra, ali receberá o incentivo que necessita.[8]

No princípio Karl Schubert não recebeu indicações para seu trabalho na classe de apoio. Ao perguntar finalmente a Rudolf Steiner quando por fim viria vê-lo para saber se estava procedendo corretamente com as crianças, Rudolf Steiner respondeu: Por que me pergunta? Estou vendo que as crianças fazem progressos. Schubert respondeu irritado: Mas o senhor, Dr., não esteve na classe de apoio. Quando finalmente Rudolf Steiner veio, deu indicações sobre como deveriam despertar as crianças adormecidas mediante exercícios volitivos centrais. Esse “despertar no centro” constituiu-se na atividade essencial de Schubert. Como preparação para as classes, Rudolf Steiner indicou a Schubert fazer uma imagem muito concreta da criança com todas as suas debilidades e imperfeições e logo depois fazer uma imagem da “estrela”, aquele ser que como uma imagem futura, saudosa de perfeição, vem a seu encontro, pois pertence a ela. Ao unir em seu interior estas duas imagens – assim disse Steiner – obter-se-á a inspiração precisa daquilo que devemos fazer. Esta prática de busca converteu-se para Karl Schubert em inesgotável fonte de imaginações e estímulos.

Estava disposto a “sacrificar” sua vasta formação intelectual, vale dizer, reformá-la, passando pelo coração e pelo ânimo, e pelo ardente fogo da vontade. Também com ele pode estar relacionada à reiterada menção ao trabalho exemplar e benfeitor de Schubert por parte de Rudolf Steiner. Durante o Congresso Pedagógico em Ilkley em 1923, Rudolf Steiner também falou do trabalho de Schubert, caracterizando as qualidades que deve ter uma pessoa para poder trabalhar fecundamente com crianças: Este trabalho pressupõe caráter, o temperamento correto, uma excepcional capacidade de amor, entrega, disposição ao sacrifício, renúncia (resignação), e tudo isto Karl Schubert tinha.[9]

Às missões que Rudolf Steiner havia confiado a Karl Schubert pertenciam também a de dar conferências no interior do país e no exterior. A este respeito, costumava formular também os títulos das conferências e até resolver que Karl Schubert deveria fazer os discursos de encerramento. No Congresso de Natal de 1923, em Dornach, Karl Schubert teve que falar, por exemplo, sobre “Antroposofia, um caminho para o Cristo. Pertenceu aos primeiros “Oradores oficiais do Goetheanum”, nomeados por Rudolf Steiner.

Karl Schubert relata em seu último encontro com Rudolf Steiner na ocasião de uma visita à classe de apoio, da seguinte maneira: (…) Logo, como uma benção irradiou seu amor sobre as crinaças e o professor. Contou às crianças, como há muitos anos havia conhecido seu professor nas montanhas da Áustria e que sempre quis que ele viesse para a escola Waldorf. Mediante estas últimas palavras, os alunos e o professor estavam unidos através de seu amor. Deixou ali sua benção e se foi.[10]

O ano de 1923 realizou uma profunda incisão para a escola, mas sobre tudo para Karl Schubert. Os déspotas do Terceiro Reich começaram a advertir que no colegiado da escola estavam trabalhando vários professores que não eram “arianos”; Karl Schubert pertencia a eles (sua mãe era de procedência judio-tcheca). Para previnir o processo vergonhoso de a escola ter de despedí-lo, Karl Schubert apresentou sua renúncia. Pediu ao mesmo tempo para poder continuar com seu trabalho no prédio da escola, de forma gratuita, de maneira independente Este pedido foi aprovado. Dele resultou uma peculiar situação que a classe de apoio e seu professor não foram considerados, quando, no ano de 1938 a escola foi fechada e proibida. Administrativamente Schubert não aparecia no contexto escolar. Porém ele seguiu trabalhando, depois de haver encontrado um novo espaço na “casa Lehrs”, na rua Schellberg 20. Os pais levavam seus filhos a este lugar, tratando de chamar a atenção o menos possível. Schubert viveu das doações e daquilo que os pais podiam dar-lhe durante a guerra. Foi assim que se produziu um “milagre quase absurdo”: O semi-judeu Schubert dava aulas a crianças ameaçadas de eutanásia! Schubert pode transportar este gérmen através de toda a época da proibição, da qual haviam sido vítimas todas as demais instituições antroposóficas. Em 1944, Schubert recebeu a ordem da Gestapo para a transferência para um campo de concentração, devendo levar consigo alimento para três dias. Mediante um atestado médico, a senhora Geraths pode obter uma postergação da ordem. O empregado notificou-o que na próxima lista seu nome estaria em primeiro lugar. Uns amigos o levaram a Eckwälden, de tal modo que Stuttgart não era mais sua residência. Foi assim que Schubert viajou diariamente a Stuttgart para encontrar-se com suas crianças na Schellbergstrasse.

Depois da guerra, Stuttgart pertencia à zona americana. Por causa das viagens proibidas de transporte de alimento para o campo, nos trens se levava à risca esta lei. Era um Sábado antes do Advento. 1945. Karl Schubert viajava de Eckwälden a Stuttgart, ao seu lado uma mochila “repleta”. Um soldado americano realizava o controle e seguro de capturar um infrator, se aproxima de Schubert. “Abra”, ordena. Karl Schubert abre a mochila e tira musgo da mesma. O soldado aguarda esperando alimentos ali escondidos. Mais tarde a mochila está vazia e ao lado de Schubert se encontra um monte de musgo. Irritado o soldado se afasta, Schubert pode guardar o musgo. Encontrava-se a caminho para preparar para seus alunos um jardinzinho de Advento. A implementação do jardinzinho de Advento, o conto da viagem de Maria através das estrelas, temas e canções tais como a adorável “Por sobre estrelas e astros…” procedem de Karl Schubert, são criações realizadas para seus protegidos. De Karl Schubert procedem muitas lendas rituais – por exemplo, também, o conto de São Nicolau – do decorrer de todo o ano, que hoje fazem parte do currículo permanete dos jardins de infância Waldorf, escolas, casas de pedagogia-curativa e instituições similares. Tudo isto foi trazido por este ser humano, profundamente religioso e imaginativo.

Sobre o último jardinzinho de Advento, conta-nos Heléne Schumacher: Os adultos levavam a luz para os defuntos, ou também para pessoas que se encontravam angustiadas ou em perigo. O Dr. Schubert levava, todos os anos, a luz para as crianças desaparecidas de sua classe ou para pessoas as quais dedicava seu amor. Na última festa do Advento, contudo, aconteceu algo nunca visto. Evocou com voz forte os Anjos, Arcanjos, os Arqueus, o nome de todas as hierarquias celestiais, chegando até a Santíssima Trindade, pegou a vela em suas mãos, encaminhou-se para o jardim claramente iluminado e acendeu a vela para as forças hierárquicas do Universo.[11]

A dor mais profunda que Karl Schubert teve que sofrer em sua vida, lhe foi causada quando a Escola Waldorf Uhlandshöhe foi reaberta, em outubro de 1945. Schubert, que havia continuado firmemente com seu trabalho pede a reincorporação à escola, logicamente com seu grupo de crianças e seu pedido é recusado! As palavras da diretoria a Schubert refletiam a preocupação que a classe auxiliar pudesse causar rejeição nos pais e prejudicar a escola. Essas pessoas ocultaram-se atrás dos pais e doadores, que poderiam sentir rejeição. Poderia, porém, fazer parte do Colegiado como professor de Religião. Um processo quase inacreditável para o observador atual. Karl Schubert, por mais que ferido no mais profundo de seu ser, não se afasta. Dá aulas de religião, realiza o Ato Dominical para as crianças na escola e em troca recebe um pequeno honorário.

Por sua vez, mantem-se ensinando e cuidando de suas crianças necessitadas de atenção pedagógico-curativas no espaço da Schellbergstrasse 20. Foram essencialmente seus amigos das casas de cuidados a especiais, na Holanda e na Inglaterra que com suas doações de provisões o mantiveram, juntamente com sua família.

Voltando de uma viagem de conferências, num domingo pela manhã e dirigindo-se a Escola Waldorf para celebrar o Ato Dominical apoderou-se dele um forte mal estar, que obrigou-o a regressar a sua casa. Faleceu três dias depois, em três de fevereiro de 1949. A partir de sua classe de apoio, iniciou, em colaboração com o Movimento Pedagógico-Curativo por um lado e o Movimento Waldorf por outro, o Movimento das Escolas Pedagógico-Curativas. Um amigo inglês certa vez disse a Walter Johannes Stein, depois que Schubert havia regressado da Alemanha: “O que acontece com esse Schubert, que mesmo ausente, continua estando aqui?” e Walter Johannes Stein lhe respondeu: É a onipresença do amor.[12] [164] Hanke, Hans-Jürgen: Karl Schubert, Lebensbilder und Aufzeichnungen. Verl ag am Goetheanum, Dornach 2004, pág. 174.
[165] Hanke, Hans-Jürgen: a.a.O., pág. 44.
[166] Hanke, Hans-Jürgen: a.a.O., pág. 45.
[167] Selg, peter: Der Engel über dem Lauenstein. Dornach 2004, pág. 37.
[5] Hanke, Hans-Jürgen: a.a.O., pág. 31
[6] Hanke, Hans-Jürgen: a.a.O., pág. 36.
[7] Hanke, Hans-Jürgen: a.a.O., pág. 37.
[8] Hanke, Hans-Jürgen: a.a.O., pág. 125.
[9] Steiner, Rudolf: Gegenwärtiges Geistesleben und Erziehung. Conferencia del 16.8.1923. Obras completas GA 307. Dornach51986.
[10] Hanke, Hans-Jürgen: a.a.O., pág. 27.
[11] Hanke, Hans-Jürgen: a.a.O., pág. 199.
[12] Hanke, Hans-Jürgen: a.a.O., pág. 164.

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