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Aprendizagem de grupo na construção da inteligibilidade da prática de coordenação de uma organização de ensino: um estudo em uma escola Waldorf

Resumo

O objetivo do estudo foi compreender como ocorre a aprendizagem de grupo, tomando-se a prática como unidade de análise e a vida cotidiana como o espaço para sua observação e compreensão. Para tal focalizou como o fenômeno ocorre entre os professores que estão envolvidos coletivamente na prática de coordenação de uma escola em Curitiba/Brasil, que é gerida de acordo com as ideias da Antroposofia e da pedagogia Waldorf. O ponto de partida teórico é o campo da aprendizagem organizacional, numa versão particularmente inspirada pela teoria da prática de base fenomenológica de Theodore Schatzki, e pelo pragmatismo de John Dewey: a prática e a construção da inteligibilidade se dão numa transação – formação mútua de indivíduos e de organização. A aprendizagem em grupo é a construção, manutenção e reconstrução da inteligibilidade das práticas cotidianas, entendidas como “atividades humanas organizadas” suportadas por um arranjo sociomaterial (pessoas, artefatos e objetos), e expressas nas ações básicas de “fazer e dizer”, que se interconectam por meio de entendimentos práticos, regras, estruturas teleoafetiva e entendimentos gerais. A inteligibilidade é o sentido que as práticas têm para os praticantes e é um elemento importante na constituição e reprodução dessas práticas como uma organização social. A pesquisa é baseada na fenomenologia como método e na etnografia como estratégia de pesquisa, denominada de imersão fenomenológica. A unidade de análise foi a prática de coordenação da Turmalina Escola Waldorf de Curitiba/Paraná/Brasil, acessada por meio da observação participante, bem como entrevistas em profundidade e entrevistas com sósia. A análise mostrou que essa prática, bem como a construção de sua inteligibilidade, são fortemente constituídas pela visão de mundo e pelos elementos da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf, e pelas condições objetivas dadas pela situação espaçotemporal da escola, o que ocorre de forma significativa em pelo menos quatro aspectos: (1) na experiência coletiva de construção pelo grupo da prática de coordenação da escola; (2) no modo como o grupo administra os recursos materiais e simbólicos necessários para a condução dessas práticas, bem como os recursos que delas emergem; (3) nos conflitos, nas contradições e na heterogeneidade oriundas da diversidade existente no grupo e do grupo em relação ao mundo exterior; e, por fim, (4) nas interconexões da prática de coordenação com outras práticas, caracterizando o grupo como um corpo em movimento. Por fim, a análise mostrou ainda que a aprendizagem em grupo pode ser também aprendizagem do grupo, e que ela ocorre na construção, manutenção e reconstrução dessas práticas e nas interconexões com outras práticas, como processo e como resultado, antes mesmo que um problema tenha se manifestado de forma explícita. O trabalho traz como contribuições para o campo de estudos: (1) os esforços em superar a dicotomia sujeito-objeto na pesquisa social; (2) a busca por preencher um gap identificado nos estudos de Aprendizagem Organizacional, tratando-a como resultado e como processo; (3) a construção de uma metodologia compatível com a abordagem multiparadigmática adotada; (4) a revelação para o mundo acadêmico da Administração formas de gestão não tradicionais; e, por fim, (5) o trabalho identificou o pre-inquiry como um possível novo olhar sobre a aprendizagem do grupo.

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