Canto Werbeck

A Escola do Desvendar da Voz foi fundada em 1924 na Suíça por Valborg Werbeck Svärdström (1879-1972), sob a orientação do antropósofo Rudolf Steiner, que reconheceu este método como um caminho terapêutico e artístico.

Segundo Valborg Werbeck Svärström, cantora sueca criadora do método Werbeck praticado pela Escola do Desvendar da Voz, muitas pessoas que passaram grande parte de suas vidas acreditando não possuir voz alguma, após praticarem com persistência os exercícios de canto, constataram uma mudança significativa nas suas vozes, mesmo após os quarenta anos.

Esta forma de cantar conduz a um reencontro com a própria voz e com o prazer de cantar, o que o torna um método indicado para quem quer ter este aprendizado na idade adulta. Com a prática de exercícios específicos busca-se trabalhar, lapidar, desvendar aquilo que brota do fundo da alma. É um caminho que ensina a ouvir o que vem do interior de nós mesmos e dos que estão a nossa volta. Permite conhecer novas possibilidades da manifestação do canto no homem como um todo, o que leva a uma compreensão mais aprofundada do ser humano e das forças espirituais trazidas pelo tom.

Um ponto que diferencia este método dos outros é a preferência pelo trabalho em grupo. Cada pessoa chega de um lugar diferente, não só fisicamente, mas anímica e espiritualmente. No decorrer do processo, ao cantar com muitas vozes ao mesmo tempo, um delicado trabalho é realizado em relação à escuta ao outro e a entrega em amorosa solidariedade às outras vozes, o que implica em uma predisposição à doação e auto-educação. Deixar-nos conduzir pelo ouvido interior é fundamental para a afinação do nosso instrumento. Para compreender o essencial da sonoridade da voz, precisa acrescentar à percepção exterior, sensorial, a percepção da audição interna, espiritual.

“Exercícios para esquecer a respiração”: foi assim que Werbeck denominou os exercícios que possibilitam que a respiração aconteça da forma mais natural possível, sem bloqueios e interferências da consciência racional. A concentração do cantor está na emissão dos fonemas, na audição dos tons e na expiração. Ao inspirar, a atitude é de permitir que o ar entre naturalmente, sem esforço. Surge então uma sensação de leveza e o ser humano superior num movimento ascendente sente-se preenchido. Na expiração o movimento permeia o corpo em movimento descendente até os pés e surge a sensação de peso. No centro corpóreo, chamado de plexo solar, surge o centro de reflexão e equilíbrio.

 

No método Werbeck o aprendizado do canto passa por três fases:

  • A primeira é chamada de direcionamento. Abre-se o caminho para o fluxo sonoro, direcionando-o para cima. Esta fase está relacionada com a cabeça, com o sistema neuro-sensorial. Atividade de observação, imaginação e concentração em pontos e tons;
  • A segunda fase é chamada de expansão e agora o fluxo sonoro se expande na horizontal em direção às orelhas. Esta fase está relacionada com a região do meio, o sistema circulatório rítmico e trabalha-se com o sentimento;
  • A terceira fase, chamada de espelhamento está relacionada com o querer, sistema metabólico-motor. Após fazer o fluxo sonoro convergir para acima da cabeça (fases 1 e 2), a voz cresce e transborda, indo refletir-se no plexo solar.

Ao nos aproximarmos do mundo dos tons, podemos perceber que se estabelece um modelo arquetípico de atuação social, de apoio e incentivo mútuo. Aquele tom mais adiantado envia forças para aquele mais fraco ou atrasado. O ser individual do tom tem sempre a tendência de unir-se e equilibrar-se mutuamente, atuando no ser humano inteiro.

Ao trabalhar o canto por este método, surge a possibilidade do reencontro com as fontes espirituais da música, tornando-nos instrumentos de manifestação desta fonte no nosso mundo. Passamos a ser pontes entre dois mundos: o espiritual e o terreno. Nos beneficiamos das forças curativas dos tons e dos fonemas, mantendo nossa vitalidade e tornando nosso corpo maleável e permeável. Com esta qualidade de canto, levamos ao ouvinte o germe de um anseio inconsciente pela libertação da cosmovisão materialista em que nos encontramos atualmente. As formas antigas de apresentação na relação artista-estrela e público ansioso pela perfeição, são substituídas por formas mais verdadeiras e genuínas na relação de pessoas que “presenteiam-se” umas às outras com o resultado de um processo de descobertas e crescimento que se revela no individual e no coletivo.

“Se as pessoas cantassem, cantassem mais e acima de tudo de forma correta, haveria menos crimes sobre a face da Terra” (Rudolf Steiner)

 

Para saber mais

VARGAS, Metchild. Terapia do canto: um caminho de recuperação da voz. 1995. Monografia de conclusão de Graduação em Musicoterapia. Universidade de São Paulo. São Paulo, 1995.

WERBECK-SVÄRDSTRÖM, V. A Escola do Desvendar da Voz. Tradução Jacira Cardoso. São Paulo: Antroposófica, 2001.

GUEDES, Maria Célia. Valborg Werbeck-Svärdström – uma história do canto desvendado. Gráfica e Editora Novo Mundo. São Lourenço- MG, 2008.

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