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A Arte e a Biografia da Alma Humana

Ao olharmos para trás, para a evolução da humanidade de uma forma teórico-histórica, estaremos fazendo uma observação superficial da realidade. Se conseguirmos olhar de uma forma a sentir historicamente antigas épocas da civilização humana, iremos perceber que o surgimento desta está ligado ao sentir religioso, o observar artístico e o conhecer conceitual e ideal que até a Grécia encontravam-se unidos, numa união harmoniosa entre a Religião, Arte e Ciência. O homem sentia-se como uma cópia, como a imagem do espírito divino que permeia e interpenetra o mundo e até então o conhecimento era procurado no conhecimento de Deus, na origem espiritual primordial atuante no homem.

Pelo fato de termos órgãos do sentido é que chegamos à natureza externa, são nossos olhos que nos permitem ter o conhecimento da multiplicidade do mundo da luz e cores, por exemplo. Porém é com o sentido artístico, que capta o que é belo, que nos permite perceber o homem e o conhecimento, é pelo brilhar do espírito na matéria que se nos revela a arte.

Para se compreender o ser humano é necessário uma arte de idéias e não apenas um captar abstrato delas através da ciência, se faz preciso uma visão artística interior para ver a entidade do homem, pois a arte verdadeira é algo que atua sobre o crescimento, a saúde e o progresso do homem.

Quando Rudolf Steiner se refere assim à Arte está se esforçando para falar do âmbito do ser do homem inteiro, não apenas do espírito científico e teórico, mas a partir de um espírito artístico. Pois a Antroposofia tem uma concepção do mundo com uma vida espiritual interna tão rica que somente poderia expressar-se em criações artísticas, num ato de percepções artísticas que são a expressão de si mesmas.

Faz-se necessário tentarmos entender o que ele quer dizer quando fala da arte e para tanto nos dá um exemplo:

“ Imaginem-se de pé num campo, numa clara noite estrelada com uma visão livre do céu. Vocês vêem regiões do céu abobadado onde as estrelas estão inteiramente agrupadas, quase formando nuvens, Vocês vêem outras regiões onde as estrelas estão mais amplamente espaçadas e formam constelações. E, assim por diante. Se vocês confrontam os céus estrelados deste modo meramente intelectual – com seu entendimento humano – vocês não alcançam nada. Mas, se vocês confrontam os céus estrelados com todo o seu ser, vocês os experienciam diferentemente. como era na antiguidade.”

Nós agora perdemos o senso perceptivo para isto, mas ele pode ser readquirido. Estar diante de uma parte do céu onde as estrelas estão bem próximas e quase formam uma nuvem, será uma experiência diferente do que estar diante das constelações…

Se alguém simplesmente registrasse o que vê lá fora nas vastidões cósmicas, não alcançaria nada. Um mero mapa dos céus estrelados, como os astrônomos fazem hoje não leva a lugar nenhum. Se, entretanto, confronta-se este cosmo como um ser humano completo, com plena compreensão do cosmo, então diante destes agrupamentos de estrelas, formam-se figuras na alma – como aquelas traçadas em velhos mapas, quando as imaginações tinham a forma da velha e instintiva clarividência. Recebe-se uma “imaginação” do cosmo todo… Os homens não têm, mesmo, nenhuma idéia hoje da maneira através da qual os homens uma vez, nos tempos remotos, quando uma clarividência instintiva ainda persistia entre eles, fitavam o cosmo. As pessoas hoje acreditam que os vários desenhos, figuras – imaginações – que eram feitos do signos zodiacais, eram produtos da fantasia. Eles não são isso, eles eram sentidos; eles eram percebidos…

O progresso humano precisou de um amortecimento desta percepção instintiva, viva, imaginativa, de maneira que a percepção intelectual que liberta o homem, viesse em seu lugar. A partir disso de novo, deve ser alcançada – se nós desejamos ser seres humanos completos – uma percepção do universo que atinge mais uma vez a “imaginação”.”

Steiner nos mostra que quando avançamos além do cosmo percebemos aí o segundo corpo do homem físico, o corpo etérico ou seja o corpo da forças formativas, revelado em imagens trazendo-nos um novo espaço supra-sensível que permeia com uma substância sutil o corpo físico do homem. E nós só podemos estudar o corpo físico se procurarmos dentro dele as forças que fluem através dele e essas forças só poderemos estudá-las se pensarmos nelas como algo plasmado a partir do todo do universo: formado plasticamente a partir de fora por “planos de força” que convergem para a terra por todos os lados e alcançando o homem.

E ele nos mostra que só assim e de nenhum outro modo as Artes plásticas surgiram nos tempos em que ainda eram uma expressão do que era elementar e primário, a beleza. No sentido original da palavra, ela é a impressão do cosmo, feita com a ajuda do corpo etérico num ser físico terreno. Assim ele nos mostra que devemos transformar em “imaginações’” o que tecemos em mero pensamentos para compreendermos o mundo externo, mantendo também um espírito científico e para tanto nos traz o método da observação goethenística.

O mundo pode ser compreendido somente de uma maneira que não seja limitada ao que pode ser apreendido pelo pensamento, mas ao que leve à apreensão universal do mundo e encontre a transição completamente orgânica e natural da observação à percepção artística e à criação artística. Portanto a Arte e a Ciência derivam do mesmo espírito, são apenas dois lados de uma única revelação; na Ciência olhamos para as coisas de tal modo que os expressamos em pensamentos e na Arte nós o expressamos em formas artísticas. E mais, a Ciência aparecerá num nível, a Religião em outro e a Arte entre elas; devemos nossa liberdade interna à Ciência e o que ganhamos como indivíduos tornando-nos independentes da natureza, à religião a devoção quando buscamos encontrar nosso caminho de volta ao espiritual, mas a Arte está entre isso, com tudo arraigado do reino da beleza, mantendo e moldando a si próprio quando cria como um ser livre se redimindo e libertando encontrando novamente nossa conexão com o mundo cósmico.

Hoje estamos totalmente entorpecidos para essas forças criativas e quando as trazemos à consciência conseguimos criar algo novo. Steiner nos fala quando diz que a mesma fonte onde o vidente, que ele chama de observador do mundo espiritual, faz suas experiências é a mesma a partir da qual o artista cria, reinteirando quando diz que para quem deseja uma certa totalidade de vida a cosmovisão artística é algo que pertence à vida, tanto quanto o conhecimento e as atividades triviais, basta observarmos a nossa vida cultural que é impregnada de sensação artística.

Para entendermos isso precisamos ter esse olhar imaginativo para as épocas culturais de nossa biografia humana.

Épocas da Lemúria e Atlântida
Vivíamos como num sonho, numa gestação encarnatória que era envolta totalmente pelo mundo divino, em plena conexão com os deuses e segundo as suas vontades. Aí não havia a percepção do Eu, vivíamos no Nós e completamente protegidos e dirigidos pelo divino, bem como não tínhamos ainda um corpo denso, físico éramos apenas fluidos e imersos no todo.

1º período Pós-Atlântico:

Na Velha índia ( 8.200 a 5 000 a.C.) conservávamos ainda a sensação de ser membro do Cosmo, conectado com o céu e as estrelas fixas, lhe dando sentido e segurança, era apenas um Eu divino no oceano da divindade. Tínhamos uma consciência onírica, as pessoas percebiam as coisas pela concentração interna através do corpo etérico, numa luz como água cristalina que brilha, que tudo envolve, tudo permeia e não oferece sombras.Era uma realidade sem contornos, sem formas, sonhada, percebíamos apenas as variações da luz e de escuridão através do sentir e da vontade, tínhamos consciência de uma luz que tudo permeava e assim vivíamos plenos de esperança, carregados ´pela criação, embrulhados num manto de um Ser de Misericórdia, ainda não estávamos acordados.

Não havia noção de tempo, nem de exterior e interior, éramos unos com o cosmo.Sentíamos isso através dos fluidos líquidos do nosso corpo que se moviam num ritmo que estava ligado ao ritmo dos planetas, era já o nosso corpo etérico e o astral. Nascemos a partir do mundo de luz,nessa época era uma dor vir para esse mundo que era a escuridão, as pessoas tinham medo do nascimento tanto quanto temos medo da morte. Esse era o mundo da cor magenta, um vermelho azulado que surgiu exteriormente, era um sonho escurecido, ela está mais ou menos no limiar e já no final dessa época já se havia uma certa sensibilidade para a terra e começaram a perceber um arco-íris no céu, apenas como um arco de luz.

2º período Pós-Atlântico:

Na velha Pérsia ( 5 000 a 2 900 a.C.) era o tempo de nossa 1ª infância, ainda não estávamos inteiramente conscientes apesar de se situar nos tempos pré-históricos quando o ser humano começou a se interessar pelas conexões com a Terra e a amá-la através da vontade, começaram a se dar conta de outros seres humanos, não pelo pensamento ou sentimentos. Mas pela vontade, os sentidos começavam a despertar e a percepção de movimentos na atmosfera ao redor, apesar de não ver o sol percebiam uma esfera oval de luz . Tudo isso mudava também o corpo físico, se na época da Velha Índia não tínhamos a pele sobre a cabeça e os ossos não eram duros, agora já começara o fechamento da moleira e os olhos físicos passaram a focar melhor, era uma consciência onírica consciente. Víam já a separação do mundo interior do exterior quando percebiam fora dele a cor magenta e o carmim num entrelaçamento contínuo conseguiam perceber a separação do céu na cor magenta e da terra nos tons do carmim.

Nessa época conseguíamos uma relação com plantas e animais,iniciamos a agricultura e sentíamos as mudanças das estações do ano em todo nosso ser. Tínhamos consciência do sonho e do acordar porém ainda se vivia e se movimentava pela vontade dos deuses, revelados pelo sacerdote que guiavam a todos. Não havia pensamento próprio, mas no coração havia a consciência do ser humano.

3º período Pós-Atlântico (alma da sensação):

Assinala a transição da velha época persa do carmim para a antiga época egípcia que floresceu em todos os tons de vermelho, laranja e siena queimado, aí o homem começou a separar-se do mundo exterior, dos deuses e era sentido no coração de um modo onírico e começa a centrar-se em si mesmo pela primeira vez. No magenta ( velha- Índia) éramos carregados pelo lado de fora e fazíamos parte de um mundo que tudo engloba, no carmim ( velha Pérsia) tudo era harmonia em todas as direções, agora inicia a certeza de que somos parte integrante da criação e há insegurança e mais tarde o medo.

O corpo físico mudou, não sonhamos mais de forma onírica, apenas quando dorme-se, há mais consciência diurna e do lado externo e interno, do corpo físico e de tudo que se relaciona com ele e aí inicia a doença e o sofrimento.

Surge com isso o conceito de moralidade, época do velho testamento, a luta para ser verdadeiramente um ser moral com medo e admiração de Deus Pai e o calor do vermelho laranja nos deu a compaixão que tudo permeia e liberta o medo, pois Steiner fala disso como sendo o medo em nossa alma que é carregado pelo sangue e tem a função por estar ligado com uma certa consciência de nós mesmos, quando temos medo o sangue é pressionado para o coração.

Dessa época vieram duas correntes de desenvolvimento, uma floresceu como sendo a civilização da Caldéia, ela tinha um caráter espiritual cósmico e a outra conhecemos como a civilização egípcia que tinha uma qualidade mais anímica, já tinham a consciência das cores magenta, carmim, laranja e siena, para eles a atmosfera era uma bruma espessa de ar colorido, sentiam-se banhados por um brilho de laranja e mais tarde pela amarelo, a luz aparecia e desaparecia ritmicamente e eram os sacerdotes que podial vê-la melhor, era uma atmosfera dourada.

Os egípcios tinham consciência da luz interior e da exterior, surgindo a consciência de espaço surgindo a astrologia, geometria e a matemática, aplicando-as na terra chegando aos mundo das formas, surgem as pirâmides. Estamos num conjunto de impressões sensórias do mundo exterior e da organização de nosso corpo físico, o pensar é por imagens ainda experimentando o pensamento cósmico no seu etérico, já existe a alma de um povo, a origem da escrita , vários grupos unidos pela língua comum ( China, Egito, Babilônia, Índia) e ao mesmo tempo que adquirimos interesse pelo mundo diminui a clarividência, as pirâmides representando através de monumentos os segredos espirituais e há a percepção da gravidade terrestre.

Nos templos egípcios era permitido a entrada apenas dos iniciados pois eram construídos de forma que o portão principal era a separação do mundo físico exterior e o mundo divino interior, era o caminho da alma em direção ao mundo espiritual, tinha um caminho estreito e baixo e a parte central era sem teto, para conservar a ligação com os deuses, o povo ficava do lado de fora em oração. Era uma religiosidade serena e solene espiritualidade, sem dimensão de tempo. Nessa cultura era usada a pintura nas paredes que retratavam cenas cotidianas, os deuses tinham cabeças de animais que na sua especificidade são superiores aos humanos e a presença divina era centrada no faraó, os iniciados cuidavam da cultura e eram consultados no dia a dia, apenas os sacerdotes egípcios viam a cor verde com um pouco de dourado dentro dele nessa época e assim retrataram Osíris com um rosto verde por considerá-lo a incorporação da inteligência pura e viva de um estado diferente de consciência.

Na época egípcia o homem se conscientizou de um mundo de espaço ao qual podia dar forma, e na civilização cretense ele percebeu um mundo de espaço em que podia se mover, tomando consciência do sol que brilhava num céu de amarelo claro na cor verde-limãp e percebia o horizonte. Seu mundo estava cheio de luz e vida, tendo leveza no corpo e na alma, por isso se tornaram acrobatas e dançarinos, tinham completo controle de seu corpo com mais elasticidade e umidade em seus músculos, tornando-os flexíveis e graciosos, sua percepção sensorial podia dar vida à sua alma.

Na época de Creta já viam todas as cores na frente da luz, menos as complementares pois essas ainda estavam no mundo espiritual para o qual ainda olhavam e sentiam-se ligados com os deuses que moravam nele, através do sentir.

4º período Pós-Atlântico (alma da razão):

Estamos na época greco-romana ( 747 a.C. a l 413 d.C.) e com os gregos veio a percepção de uma abóboda redonda como céu, que eles admiravam e aspiravam com alegria, sentiam que a terra tinha a ver com eles e tinham gratidão por isso.Na Grécia, onde o verde puro veio para a consciência do ser humano, o pensamento lógico floresceu inteiramente.

O fundamento para esse desenvolvimento tinha sido colocado na época egípcia, quando aconteceu a consciência do amarelo no sistema nervoso e começaram a sentir seu caminho para dentro de seu corpo físico e assim o sistema nervoso estava preparado para o desenvolvimento do pensamento lógico. Logo após tomaram consciência da cor azul na atmosfera em sua volta.

Os gregos repetiram o desenvolvimento ocorrido em Creta, a mesma leveza, irradiação e brilho sobre tudo, para eles o universo estava cheio de seres divididos em extremamentes divinos e sagrados e seres de hierarquia inferior ligados à natureza que tomavam parte na vida humana, podiam ajudar ou impedir os mortais, mas logo perderam essa percepção e passaram a perceber o mundo exterior (mundo dos sentidos). A atmosfera se tornou mais clara e viram uma fronteira bem definida entre o mundo exterior e interior, surgia o remorso quando sua consciência tornou-se parte de seu mundo interior e não mais estava em seres fora dele, então perceberam o próprio Eu e de estar na terra. Tiveram uma sensação de enorme felicidade no verde, foram os primeiros a verem as cores complementares.

Quando o homem saiu da consciência do magenta (velha Índia) e passou para o carmim ( velha Pérsia), deixou a unidade tudo abarcante e acordou para o mundo da dualidade. Carmim tem a ver com a missão humana aqui na terra, nessa cor tomamos consciência de nossos pés e deles tocarem a Terra adquirindo a verticalidade no caminhar. No período da cultura egípcia, através do vermilion e amarelo o corpo astral se ligou mais ao sistema nervoso e surgiu a consciência da forma, apesar de ainda perceberem os processos criativos de forma clarividente.

Ao conseguir ficar ereto entre a gravidade e os céus, expressado com a dança e acrobacia pelos cretenses e depois pelos gregos, o cérebro começou a viver o seu papel como organismo central do sistema nervoso. A consciência através de imagens inconscientes foi transformada na faculdade do pensamento lógico físico, permeado pelas forças etéricas da vida.

Hoje a humanidade no geral tem um pensamento sem vida e mecânico e necessita vivificá-lo para chegar a uma consciência de imagens consciente.

Nessa época o homem passou a ter conhecimento do mundo sob forma de conceitos, tinha a vivência do corpo físico, era a medida para todas as coisas, tornando-se cidadão da Terra. Há busca da harmonia ( Artes plásticas), surgem a Filosofia ( Lógica), a Ciência e a Literatura/ Teatro, a Escultura que mostra o arquétipo do ser humano ideal e seus templos que eram perfeitamente tridimensional, com forças equilibradas e leves, com as paredes externas abertas e agora com teto demonstrando que a ligação com o divino de forma clarividente por todos estava feita, os sacrifícios e orações eram feitas fora do templo.

Era o acordar da psique humana e do evento de Cólgota que permeou a Terra com o sangue crístico fortalecendo nosso Eu, nosso livre arbítrio, para que possamos evoluir para a alma da consciência.

A cultura grega viu o alvorescer do verde puro terminar com a chegada do verde escuro que se expressou na civilização mais terrena e pragmática que foi a de Roma, que está expressa nas suas esculturas de guerreiros e cézares, que só retratavam as cabeças. Depois da queda do Império romano foi a civilização de Bizâncio que expressou a evolução humana mais ou menos em 300 a 800 d.C., eles percebiam o céu de uma cor entre dourado e turquesa, variando com a estado de consciência. As pessoas sabiam que Cristo havia encarnado e todos ao pensamentos e sentimentos religiosos centraram-se ao redor desse conhecimento.

O Império Bizantino englobava muitas nações e grupos étnicos diferentes, a esfera de pensamento e do trabalho de Constantinopla sob o jugo da igreja era inteiramente diferente daquele de Alexandria com sua grande academia e bibliotecas famosas. Essas duas grandes escolas se excomungaram mutuamente através dos concílios sobre questões teológicas que causou a cisão da igreja e houve a intolerância com as escolas de cristianismo esotérico, que se preocupavam com o espírito mais do que com a alma.

A consciência das pessoas da época bizantina flutuava entre sonho e objetividade, não percebiam a perspectiva do espaço, apesar de terem consciência da esquerda e direita que era uma percepção bidimensional, o ser humano estava a uma passo de entrar para a encarnação plena. O sistema nervoso tinha começado a clarear, portanto tinham uma orientação diferente sobre a Terra ( Copérnico) e a igreja se opunha fortemente contra isso trazendo o extremismo que levou à cisão completa entre o terreno e o divino e ao mesmo tempo trouxe o prenúncio de uma nova conexão com a vontade (Eu).

A arte bizantina consegue nos comover com seus mosaicos e ícones que falam da religiosidade cósmica que transcende o mundo do espírito, tendo pela primeira vez a visão do azul turquesa que é a cor que escuta o chamado do espírito.

5º período Pós-Atlântico (alma da consciência):

Época do Renascimento, em 1413 d.C. quando o homem precisa aprender a manter-se como ser individual num mundo que o quer absorver. Na cultura grega o homem teve o primeiro vislumbrar de consciência de um mundo interno contra um mundo externo, tanto no plano espiritual quanto no material. Antes disso tudo, a alma vivia num mundo indivisível e posteriormente a alma bizantina vivia a maior parte nos céus e o sentimento religioso estava ao seu redor na atmosfera.

Agora a consciência das pessoas do III e IV séculos flutuava entre o mundo do espaço, onde se estava completamente acordado e o mundo dos sonhos, onde através dos sentimentos eram capazes de apreender o que acontecia depois do limite da consciência, tiveram então total visão dos tons de azuis nos céus. Alcançando o estágio no qual o organismo humano começou a fechar a alma e o homem se tornou um ser com um mundo interior que era só seu, separado do mundo exterior e dos céus, estando inteiramente encarnado.

Assim transformando seu organismo com o enfocamento visual dos olhos na percepção visual teve noção de espaço e da ilusão óptica que chamamos de perspectiva, hoje isso é muito forte em nós: a idéia de espaço está fora de nós e não tem nada a ver conosco.

Surge o desejo de estar só, de entrar para dentro do seu mundo interno para refletir e tem o sentimento de “estar aqui separado do mundo” e que a religiosidade brota das profundidades do seu ser, podendo olhar para seu Deus com devoção e humildade ( viagem de Parsifal na humildade antes de chegar ao Graal), a partir daí a estrada leva para uma experiência cada vez mais consciente da vontade.

Nessa época há as conquistas nas ciências e letras. O renascimento nas artes plásticas, o humanismo na filosofia e na pintura até então bidimensional com o fundo dourado (mundo divino) ganha um fundo em perspectiva e rostos individualizados, com sentimentos e surgem os primeiros auto-retratos e as naturezas mortas com espaço e volume.

A educação estava nas mãos da igreja e as pinturas tinham temas religiosos com um sentido educativo de fixação de uma determinada ideologia, as pessoas visitavam e percorriam as igrejas periodicamente, elas eram fechadas, pesadas, centradas em si e as colunas voltam a ser dentro dos templos e toda a decoração tem um fundo dogmático.

Na idade média o cristianismo institucionalizou-se e passou a regular e determinar a vida das pessoas , a literatura era acessível a poucos fazendo com que a vida espiritual e material ficasse sobre a regência da igreja. Nas artes o nome do artista passa a ser conhecido, assina-se as obras e reconhecesse um estilo próprio apesar de também viverem sob o jugo e sustento da igreja.

Apesar disso havia uma busca da transformação de dentro para fora, culminando com a contra-reforma com a igreja atuando judicialmente, julgando e condenando à fogueira qualquer pessoa que tivesse sua própria opinião sobre o mundo e em seus tribunais os reformistas eram sempre condenados em nome de Deus.

Porém há a auto-consciência que está expressa no movimento barroco, quando o artista demonstra em suas telas o uso da luz nos retratos para dar expressão e movimento às pessoas pintadas. E a incidência da luz que na renascença era difusa e indireta passa a ser dirigida, caindo sobre um foco, tendo sombras suaves e em transição constante, com contrastes fortes.

Então acontecem vários movimentos culturais nas áreas das artes, das ciências e das religiões. As diferenças entre as civilizações se acentuam, há várias línguas , hábitos e costumes, culminando com a divisão de espaço e do poder nas novas sociedades.

Após o século XV as nações valorizam sua cultura e há como uma regionalização de tudo.

Nas artes acontecem vários movimentos artísticos como : romantismo, naturalismo, realismo, impressionismo, expressionismo, simbolismo, cubismo, art nouveau, concretismo, abstrato,, etc… até a arte moderna e contemporânea. Sendo que as mudanças principais foram a maneira de usar a luz, sombra e cores nas telas, nas esculturas as formas e na arquitetura o espaço. Quanto ao pensar tornou-se quase que completamente materialista, a luz da consciência não mais refletia o mundo do espírito na mente do homem, onde a inteligência brilha intensamente, mas focalizada sobre o mundo da matéria principalmente nas ciências que cada vez mais têm especificidades e se perde do todo.

O homem torna-se auto-confiante, porém ansioso e preocupado pois o limite do mundo está à sua frente, lá fora não há nada espiritual e as pessoas só pensam, falam e vivem para elas mesmas. Assim o primeiro sentimento é o cansaço e o medo, como se tivéssemos construído uma prisão ao nosso redor em vez de abrir a porta e nos movermos, estamos como que paralisados.

Já nos séculos XVIII e XIX os artistas já pressentiam isso e lutavam contra isso, mesmo sem ter a consciência de tudo o que ocorria.

Após o século XIX há uma divisão no mundo das artes e surgem duas grandes escolas, uma usa as cores e outra as formas, o desenho com a linha e o ponto. Representadas por Van Gogh e Gauguin que usavam uma forte tensão emocional e de outro lado por Cezanne, Picasso, Kandisky, Paul Klee, Franz Marc, etc… que exaltavam a experiência emocional e o pensar abstrato.

Em seguida a esses movimentos e durante a 1ª guerra mundial há uma grande busca pelo espiritual e renovação, rejeitavam a escola tradicional de Bahms e muitos encontram na arquitetura de Steiner com a construção do Goetheanum, em Dornah, na Suíça um lugar de paz e harmonia para trabalhar e se juntam a ele nessa obra que tenta colocar as idéias de uma nova arte que usa as forças plasmadoras externas.

Usando a idéia imaginativa de como seria uma construção que respondesse à algo que vem de dentro como a casca da noz que se adapta à ela, reencontrando na vivência da cor que tem uma relação com os sentimentos, a coragem para recuperar sua luminosidade, a cor deve se emancipar da matéria, por isso usa a água e a aquarela. Isso deixa os artistas da época atônitos, um deles consegue se colocar na Europa, é Gaudi, na Espanha, com a sua arquitetura e esculturas coloridas.

Esse impulso que vem da alma era como uma planta, esculpido e criado como um ser vivo, lá Steiner desenvolve a eurritmia, pintura , os vitrais esculpidos em vidro e a estátua do Representante do Homem em madeira, numa tentativa de unir as artes numa vivência de toda a evolução ao adentrar no Goetheanum, ali ele esboça as leis da evolução humana.

Precisamos de movimento-rítmico, movimento gentil na alma, que então nos deixará respirar e andar em direção à nossa liberdade saindo da superficialidade da verdade. Nossa época é muito dramática, o ser humano tem a possibilidade de ascender mais alto no mundo espiritual ou então de descer nas profundidades do nada.

Hoje podemos ter a consciência do mal dentro de si mesmos, tudo dependerá de nossa moralidade, do conhecimento do bem e do mal.

Rudolf Steiner fala que estamos na época de Micael, arcanjo da verdade e voz de Deus que guarda uma inteligência diferente para o nosso pensar. Ele acompanhou nosso desenvolvimento e aquele que foi o arcanjo guerreiro e a glória doas céus na época anterior a Cristo, agora precisa esperar que os seres humanos tomem a iniciativa de encontrá-lo com inspiração e entusiasmo para prosseguir o caminho saindo do isolamento, pois após o fechamento da cabeça existe o perigo de fecharmos o coração e então perderemos a relação com o mundo externo, sendo abandonados num mundo de antipatia congelante e de medo.

Estamos na época da cor índigo que é uma das cores de limiar, ela nos torna mais sensíveis à dor, sentimos a dor com maior agudeza e intensidade do que era antigamente, é como estar na beira de um abismo e nos fala da morte e de outro conhecimento do Eu e se conseguirmos romper esses véus veremos o violeta.

A cor que é como uma ponte que temos de cruzar para chegarmos a outro mundo aerado e transparente que dá à alma uma consciência de transparência, profundidade e amplidão, além do limite da visão numa nova conexão do cosmo com a Terra.

O violeta é o futuro, ele hoje já atua na aura das pessoas que estão interessadas no espiritual, abrindo o caminho para alturas espirituais mais elevadas e profundas, teremos um órgão sensorial para nosso carma e nossa memória, havendo um confronto. O ser humano então poderá mudar em corpo e em alma, de tal modo que num futuro ainda distante, não mais teremos a experiência da nossa personalidade com um nome. As linhas que dividem o indivíduo e seu ambiente não serão tão exatas, as experiências de grupo serão comuns e resultará diferentemente em cada um.

Haverá um sentido do Eu mais consciente e intenso como um órgão sensóreo. Ainda precisamos acordar para ele que nos dará uma força de vontade que vem de fora, mas objetiva e pessoal, a religiosidade será uma qualidade inata e enraizada na alma humana, será a inteligência do coração humano.

REFERÊNCIAS

Palestras de Rudolf Steiner:
Antroposofia e as Artes Visuais – O supra-sensível / sensível: conhecimento e criação artística.
A Arte e a Pedagogia – Palestra de Edna Andrade: Biografia da alma humana através da arte.
Apostila de Liane Collot D’Herbois – Luz, escuridão e cor na pintura terapêutica.
Introdução aos fundamentos da pintura terapêutica – Paul von der Heid
A Ciência Oculta – Rudolf Steiner
Doutrina das cores – J. W. Goethe
Passeios através da história – Rudolf Lanz

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